Depoimentos de quem já participou

Grupo Beija Flor


Agentes do Bem & Gente do Bem 

Por Marisa Mello Martins, Presidente da Instituição Filantrópica e Educacional Parábola , www.parabola.com.br , Utilidade Pública Federal , Estadual e Título de Filantropia . 

Você deve estar pensando: 

- O que tem a ver este título com obra social?

Se ler até o fim este capítulo, certamente compreenderá, poderá até se tornar um Agente do Bem ou talvez seja uma de nossas Gente do Bem! 

* * *

Nosso objetivo com este livro é trazer você para dentro de nossa experiência pessoal, dentro do Grupo Beija-Flor, mas também trazer a reflexão. 

Não nos basta apenas ter boa vontade e desejarmos ajudar ao nosso próximo, precisamos realmente encontrar pessoas que precisam de ajuda real, que se encontram na situação de necessitarem da intervenção de terceiros e isto não é simples. 

O que desejo que se compreenda é que o mesmo temor que você tem de ajudar alguém com as questões: Será que esta pessoa não está mentindo que precisa de ajuda? 

Querendo tirar proveito de nossa ação social? Será que é uma pessoa do bem?, também é uma realidade para nós. 

Uma investigação muito grande é sempre fundamental. 

Questões e observações pessoais, além da necessidade que temos sempre de ter outra pessoa conosco para identificar a realidade, tornam mais difícil errar, e, contando com amparo de Deus, conseguimos realmente identificar as pessoas que precisam de ajuda. 

Nosso esforço neste sentido é muito grande, porque não podemos nos desgastar com uma situação que não dê resultados. 

Batizo neste capítulo as pessoas que encontramos como Gente do Bem e meus companheiros do Beija-Flor como Agentes do Bem!

Sempre encontro alguém que me pergunta porque o Grupo Beija-Flor ajuda outras entidades e não abre sua própria. 

É muito simples de compreender, queremos ajudar aos grupos de ação social já existentes, aqueles que checamos e compreendemos que realmente são pessoas que precisam de nós. 

Uma das entidades que precisa de nós é a Instituição Filantrópica e Educacional Parábola.

Sou Presidente da Parábola, mas também sou membro do grupo Beija-Flor . 

Como pode isto? Todos nós podemos ser Agentes e Gente do bem se desejarmos ajudar nosso próximo e se desejarmos sinceramente expor nossas necessidades quando não as podemos administrar sozinhos e pedir: Socorro!!! 

Muitas vezes o grupo Beija-Flor nos ajuda a prosseguir com nosso trabalho, todos os meses, fielmente.

O Beija-Flor faz parte do que realizamos, porém, nós também podemos, em alguns casos, ajudá-lo a fazer seu trabalho, o que é maravilhoso. 

Isso acontece quando se ama e para amarmos realmente as pessoas, precisamos conhecê-las, confiar no que dizem, literalmente: vestir a camisa do time!

Foi assim que fomos encontrados pelo Grupo Beija-Flor. Era um momento de muita solidão e necessidade, mas descrevo isso depois para vocês. 

Quero que saibam como o Grupo Beija-Flor decidiu fazer parte da Instituição Filantrópica e Educacional Parábola!

Pode imaginar como???

Conhecendo nossa história. Conto para vocês agora.

Minha história pessoal tem muito a ver com a Parábola, ah, como tem!

Nasci num lar onde, infelizmente, as drogas regiam as relações. Ora , se a droga domina , pode acreditar que os relacionamentos terão a mesma ordem... serão uma droga, também . 

Em 1964 as drogas não eram como hoje, onde todos compreendem do que se trata; tudo era muito velado, não compreendia o que se passava, a polícia vivia atrás de meu pai, minha mãe não suportando, acabou por se envolver com o álcool. 

Em certo momento convidaram um monte de monstrengos intrusos para morar com a gente. 

Uma chamava-se violência, o outro espancamento, o outro desprezo e o mais temível, o mais tenebroso dos quatro, chamado abuso sexual.

Sobrevivi até meus onze anos, quando conheci o último membro da patota que as drogas e o álcool trouxeram para casa!

Entrei em desespero muito profundo, pior do que os outros não gostarem de você é quando você resolve achar que eles têm razão e aí faz o mesmo!

Fugi de casa aos treze anos. Infelizmente os monstrengos resolveram me acompanhar, os quatro estavam decididos a andar juntamente comigo, acreditam? 

Aos dezessete anos já tinha dois filhos lindos, a melhor coisa que havia me acontecido e aos dezenove desistia deles, de mim, da vida e dos quatro terríveis acompanhantes de minha infância com uma hemorragia provocada por mim mesma. 

Uma pessoa especial veio em minha casa neste momento, certamente não teria sobrevivido sem a intervenção de um Agente do Bem, não tinha como me defender sozinha ou lutar sozinha. Como são preciosos estes Agentes do Bem, verdadeiros resgatadores de vidas!

Esta pessoa me disse que Deus a havia mandado ali e que Ele se importava comigo. Claro que eu... não acreditei!

Contudo, era inequívoco! Como aquela mulher poderia ter ido parar em minha casa? Ela nem me conhecia!

Será que Deus... não, não podia ser, Ele tinha mais o que fazer!

Querido leitor, descobri que Deus não tinha nada mais importante para fazer do que amar e cuidar e de mim e de você! 

Quando descobri esta verdade compreendi que o único meio que as pessoas podem saber disto é se outra pessoa falar.

Sério, Deus não vai mandar anjos na terra para dizer de seu amor, Ele quer que sejamos instrumentos deste amor. 

Meu primeiro trabalho era convencer a Gang Funeral, que atuava na Penha , zona leste de São Paulo, que não importava o que eles haviam feito de errado, não importava o que haviam sofrido: eles eram preciosos para Deus e para mim! 

Eu tinha só dezenove anos, não sabia muito bem o que fazer, se é que sei hoje, mas me apavorei ao ver os líderes me entregando as armas calibre 38 que tinham e, desejosos de saírem das ruas, questionavam-me sobre o que deveriam fazer . 

Eu realmente não estava pronta para que acreditassem em mim e tão rápido! 

Era como se estivessem sedentos para saber que eram importantes para alguém neste mundo!

Aos vinte e dois anos fundei um grupo de teatro de nome Parábola, pois existe um texto na bíblia no Evangelho de São Marcos, capítulo IV, versículo 33, que diz que Jesus expunha seus ensinamentos por meio de muitas parábolas, segundo a capacidade de cada ouvinte e era exatamente isto que desejávamos, ser Parábolas de Jesus! 

Por meio desse teatro entrávamos em favelas, presídios, escolas, FEBEM, onde quer que nos chamassem! Nosso trabalho nas ruas, porém, era muito mais sofrido. Muitas vezes quando retornávamos a algum lugar que já havíamos ido, muitas crianças e jovens haviam perdido suas vidas ou se ferido gravemente. Precisávamos tirar as crianças e os jovens daquele lugar de morte. 

Quando completei trinta anos nascia a Instituição Filantrópica e Educacional Parábola. No sistema de Família Alternativa atendíamos a cada criança como nossa família. 

A primeira turma não deu certo. Nos apaixonamos pelos vinte e sete e acabamos adotando-os como filhos. Não estava previsto isto, mas quem pode compreender o caminho do coração? 

Meus filhos conheciam todos aqueles quatro monstros de minha infância... Vimos crianças violentadas com três aninhos de idade, crianças mutiladas aos cinco anos de idade... crianças vendidas como escravas ao nascerem... crianças na prostituição aos nove anos de idade. 

A Parábola expandiu. Hoje, como resultado de suas atividades, possui três casas de atendimento e é parceira de mais de dez instituições sérias que atendem a órfãos, hemofílicos, crianças com câncer e soro positivos . 

Depois de conhecer profundamente esta história, os membros do Grupo Beija-Flor resolveram ... adotar a Parábola!

Graças dou a Deus por isto, não suportaríamos sozinhos de outro modo. 

Quando somos transparentes corremos o risco de nos envolver, de sermos conhecidos, de amarmos ao nosso próximo. 

Quando amamos, corremos o risco de não nos omitirmos.

Quando não nos omitimos nos tornamos um AGENTE DO BEM. 

Una-se a nós! Certamente correrá outro risco inevitável: Tornar-se um verdadeiro autor social, um autêntico Agente do Bem!

Marisa
Texto retirado do livro Solidariedade 

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