Preto Velho


Dando início a uma destas reuniões mediúnica num centro espírita orientado pela doutrina de Allan Kardec, foi feita a prece de abertura por um dos presentes. Iniciando-se as manifestações, pequenas mensagens de consolo e apoio, foram dadas pelos desencarnados aos membros da reunião.  

Quando se abriu o espaço destinado à comunicação de Espíritos necessitados, ocorreu o inesperado: a médium Letícia fica sob a influência de um Espírito

O dirigente, como sempre fez nos seus vinte e tantos anos de prática espírita, deu-lhe as boas-vindas, em nome de Jesus. 

- Seja bem-vindo, meu irmão, nesta casa de caridade, disse-lhe Dr. Anestor.

O espírito respondeu:

- Boa noite, Fio. Suncê me dá licença prá eu me aproximá de seus trabalhos, Fio?".

- Claro, meu companheiro, nosso centro espírita está aberto a todos os que desejam progredir, respondeu o diretor da mesa. 

Todos os presentes perceberam que a entidade comunicante era um preto-velho, a entidade continuou:

-"Vósmecê não tem aí uma cachacinha prá eu bebê, Fio?".

- Não, não temos, disse-lhe Dr. Anestor. Você precisa se libertar destes costumes que traz dos terreiros, que é o de ingerir bebidas alcoólicas. 

O Espírito precisa evoluir, completou o dirigente.

- Vósmecê num tem aí um pito? Tô com vontade de pitá um cigarrinho, Fio.

- Ora, meu irmão, você deve deixar o mais breve possível este hábito adquirido nas práticas de terreiro, se é que queres progredir. Que benefícios traria isso a você?

O preto-velho respondeu:

- Preto-véio gostou muito de suas falas, mas suncê e mais alguns dos médiuns não faz uso do cigarro, Fio? Suncê mesmo num toma suas  bebidinhas nos fins de sumana? Vós mecê pode me explicá a diferença que tem o seu Espírito que beberica `whisky' lá fora, do meu Espírito que quer  beber aqui dentro? Ou explicá prá mim, a diferença do cigarrinho que suncês fuma na rua, daquele que eu quero pitar aqui dentro, Fio?

Dr. Anestor não pôde explicar, mas resolveu arriscar: - Ora, meu amigo, nós estamos num templo espírita e é preciso respeitar os trabalhos de Jesus. O preto-velho retrucou, agora já não mais falando como caipira:  

- Caro dirigente, na escola espiritual da qual faço parte, temos aprendido que o verdadeiro templo não se constitui nas quatro paredes a que chamais centro espírita.

Para nós, estudiosos da alma, o templo da verdade é o do Espírito. E é ele que está sendo profanado com o uso do álcool e do fumo, como vêm procedendo os senhores. Vosso exemplo na sociedade, perante  os estranhos e mesmo seus familiares, não tem sido dos melhores. O hábito,  mesmo social, de beber e fumar deve ser combatido por todos os que  trabalham na Terra em nome do Cristo. A lição do próprio comportamento  é fundamental na vida de quem quer ensinar.

Houve grande silêncio diante de tal argumentação segura. Pouco depois, o Espírito continuou:

- Suncê me adescurpa a visitação que fiz hoje, e o tempo que tomei do seu trabalho. Vou-me embora para donde vim, mas antes, Fio, queria deixar a suncês um conselho: que tomem cuidado com suas obras, pois, como diria Nosso Sinhô', tem gente coando mosquito e engolindo camelos.  

- Cuidado, irmãos, muito cuidado. Preto-véio deixa a todos um pouco da  paz que vem de Deus. Ficam meus sinceros votos de progresso a todos os  que militam nesta respeitável Seara".

Dado o conselho, afastou-se para o mundo invisível. Dr. Anestor ainda quis perguntar-lhe o porquê de falar "daquela forma", mas não houve resposta. No ar ficou um profundo silêncio, uma fina sensação de paz e uma importante lição para todos meditarem.

Autor Desconhecido


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