Quando li nas estrelas o sentido do verdadeiro Natal

Vocês já perceberam quantas histórias mágicas acontecem na época do Natal?? Interessante observar como as pessoas se tornam mais sensíveis nessa época do ano, em que celebramos o nascimento desse Personagem, que nada mais nada menos, dividiu a história da Humanidade. 

Durante muitos anos, esperei que algo diferente acontecesse comigo também. A mesmice de muitos Natais já estava deixando a data sem brilho, sem magia, sem importância. Estava se tornando apenas mais um compromisso entulhado na agenda.

Anualmente, as mesmas e várias brincadeiras de amigo secreto no trabalho, na escola, na vizinhança, no grupo de amigos, no ambiente familiar; a preocupação com os presentes, o cardápio da data, (incluindo fritar rabanadas a tarde inteira... ughhhh), a compra de roupas novas, o horário no cabeleireiro que deve ser agendado quarenta dias antes, os enfeites de Natal que não devem ser deixados para última semana (pra não ficar só com os restos mortais), enfim, toda aquela correria, shoppings centers lotados, as pessoas estressadas, querendo ser atendidas rapidamente, exigindo descontos, facilidades de pagamento e sequer desejando um Feliz Natal para o atendente da loja, ou observando o olhar triste de algumas pessoas... 

Quando me dei conta, estava desanimada para a maratona natalina daquele ano 2000...

Minha vida estava diferente, passei por algumas mudanças fortes que nem é o caso detalhar... mas a esperança de tornar aquela data diferente dos últimos trinta anos, estava pungente. Resolvera dar-me a chance de fazer um momento mágico em homenagem ao Homem que mudou a história da Humanidade. Pensava comigo: Como Jesus comemoraria seu aniversário em pleno ano 2000? Seria vegetariano e não comeria peru assado? Organizaria uma balada regada a muita cerveja e rock? Vestir-se-ia de Papai Noel? Ou estaria com os mais necessitados, exercendo os ensinamentos que nos deixou há dois mil anos?

Decidi me engajar num grupo de desconhecidos, em outra cidade, que preparava uma Festa de Natal, com a intenção de beneficiar 'Duas Mil Pessoas'. Não tinha idéia do que me esperava, mas estava confiante de que a experiência me traria respostas e reencontraria a esperança e magia do Natal.

Foi com esse sentimento que me despedi do meu namorado na rodoviária de São Paulo. Era o primeiro ano que estávamos juntos, senti-me dividida entre deixá-lo e me juntar a desconhecidos, ou estar em casa, no meio daqueles a quem amo. Pude contar com seu apoio e compreensão, organizando inclusive a Campanha de Brinquedos que realizamos para levar às crianças carentes daquela cidade do interior de Minas Gerais.

Sem questionar muito os detalhes, depois de vários abraços e lágrimas, segui com meu projeto de me permitir viver a diferença...

Era a primeira vez que viajava absolutamente sozinha, mas sentia uma segurança plena. A viagem foi tranqüila e após seis horas chegava ao destino da Festa. Essa era a manhã de vinte e quatro de dezembro. Tenho uma prima que mora na cidade de Sacramento - MG e estava me esperando. Passamos o dia juntas, tive a oportunidade de receber detalhes do trabalho desse grupo, desvinculados de religião ou política, que sobrevive de doações espontâneas.

No final do dia, nos dirigimos ao local. Estrada de terra, tudo escuro... preciso confessar... de quando em quando me perguntava: o que estou fazendo aqui no meio do nada, com essas pessoas que acabo de conhecer? Mas, ainda assim, um sentimento de tranqüilidade me invadia a alma. Pensava na minha mãe, no meu pai, que há mais de cinco Natais havia nos deixado em partida para o Plano Maior, meus sobrinhos, sempre contando comigo para animar a festa, meu namorado, com o olhar triste de quem estava saudoso e queria ficar junto. Enfim, tudo se misturava na minha cabeça até chegarmos ao local do evento.

Era uma noite estrelada, morna, olhei para mim e pensei: Onde está minha roupa nova de Natal? (Usava apenas um jeans, camiseta e tênis). Que presentes ganharei nessa noite? Qual será o jantar? Quem será meu amigo secreto? Com respostas totalmente diferentes daquelas que conhecia, segui feliz.

Fui recebida com grande carinho. Local amplo, muito limpo e uma atmosfera de paz e grande alegria. Dezenas de pessoas já se mobilizavam em diferentes atividades: organizando o galpão da festa, separando roupas, brinquedos, utensílios (todos objetos doados em bom estado), preparando o almoço de Natal, limpando...

Não tinha idéia qual poderia ser minha contribuição.

Lembro-me que o organizador geral, mostrou-me um local para guarda de objetos pessoais e uma cama limpa que eu poderia usar, sempre que me sentisse cansada...

Apenas sorri, porque mesmo sem saber como explicar tinha certeza que não sentiria sono.

Comecei ajudando em tarefas simples, orientada pelas pessoas mais experientes. Finalmente soaram as doze badaladas.

Meia noite! Percebi que era Natal. Estava na área externa da casa, lavando algumas panelas que precisavam ser reutilizadas, quando ouvi ao longe sons de fogos. E eu estava ali, fazendo uma história diferente, buscando reencontrar a magia na humildade... uma atividade simples... O que faria o Mestre Jesus se estivesse ali conosco??? Era essa pergunta que estava na minha mente.

A noite toda foi trabalhosa, afinal precisávamos organizar dois mil marmitex. Trabalho árduo, nunca tinha descascado cebola... Foi a oportunidade de valorizar atividades que parecem simples. Cantávamos, conversávamos, ajudávamo-nos...

Foi nesse clima de paz que os primeiros raios do Sol apareceram. 

Novo grupo havia sido selecionado para organizar a fila das pessoas que já chegavam para receber as doações. O galpão já estava pronto, várias barracas, de diferentes itens, formavam um corredor por onde os adultos passariam recebendo roupas e as crianças, brinquedos - depois disso, todos receberiam o marmitex para fazerem o almoço de Natal.

Estávamos ansiosos, cansados também, mas a expectativa nos mantinha entusiasmados.

Foi só no momento final, que pudemos ter idéia da grande quantidade de voluntários daquele trabalho. O sentimento de fazer parte de um todo, de estar ali doando seu melhor, sua noite de Natal para ver o sorriso de esperança daquelas crianças e daquelas famílias, então reconheci - Era meu reencontro com a magia do Natal...

Após proferirmos sentida prece, as portas foram abertas e, por mais de hora e meia, foram distribuídos os itens de presentes. Durante toda a manhã, a refeição do almoço de Natal.

A imagem de uma criança, de pés descalços, rosto ainda enrugado do travesseiro, que ao receber uma pequena lembrança das minhas mãos, encheu os olhos de lágrimas e me disse:

- Diz obrigado pro Papai Noel - tive a certeza de que ali estaria o Mestre se pudesse comemorar o aniversário na Terra.

Voltei para minha cidade, cheia de saudades da família, amigos, do namorado. Fui uma mulher e voltei outra, muito mais apaixonada e esperançosa.

Essa experiência me deu a certeza de que pequenas contribuições para o outro, recuperam a magia das palavras do Mestre e convencem que somos seres humanos integrantes de uma família maior, portanto, não importa a roupa, a comida, onde você está, mas como você encontra sua magia...

Torço por você, para que também se permita quebrar rotinas e fatos que te fizeram não enxergar mais a magia, não precisar esperar o Natal, mas pensar que cada dia é uma data especial!

Beija-Flor Raquel

Voltar